sábado, 30 de maio de 2009

Os atletas e o álcool

Mais uma sobre os atletas e o álcool. Espero que gostem do conteudo.

Quantos atletas consomem bebidas alcoólicas e em que quantidade? É difícil encontrar respostas confiáveis para essas perguntas. Em primeiro lugar, já que fornece, caracteristicamente, menor contribuição para ingestão diária de energia (geralmente menos de 5% da ingestão total de energia em adultos), com freqüência, a ingestão de álcool é excluída dos resultados das pesquisas alimentares em atletas ou simplesmente esquecida. Em segundo lugar, os especialistas em pesquisas alimentares dizem que os relatos pessoais sobre o próprio consumo de álcool são particularmente questionáveis. Por temerem discriminação, os atletas omitem informações ou exageram nos dados para se exibir.

Em geral, as pesquisas alimentares com atletas que incluem informações sobre consumo de bebidas alcoólicas sugerem que o álcool contribui com 0 a 5% para a ingestão total de energia na dieta diária. Esses valores podem fornecer uma visão distorcida dos hábitos alcoólicos dos atletas. Afinal, muitos deles só consomem álcool algumas poucas vezes por semana ou por mês, porém, nessas ocasiões, tomam grandes quantidades. Tal padrão foi demonstrado em uma pesquisa alimentar com jogadores de futebol da Austrália, cuja ingestão diária média de álcool foi registrada em modestas 20 g ou duas doses padrão. A maior parte dessa ingestão ocorria durante reuniões para comemorar ou lamentar o resultado dos jogos; nesses eventos, a ingestão média era de 120 g (em uma faixa de 27 a 368 g), o que significa uma contribuição média de 19% (em uma faixa de 3 a 43%) para a ingestão total de energia. Esses relatos pessoais de ingestão excessiva de álcool após o jogo foram confirmados pela estimativa dos níveis de álcool no sangue (BALs - blood alrohollevels) em uma sessão de treinamento realizada na manhã seguinte após o jogo: 34% dos jogadores registraram um BAL positivo; 10% deles apresentaram um nível acima do limite permitido pela legislação para dirigir um veículo auto motivo. Bebedeiras são temas freqüentes de conversas ou de reportagens na mídia sobre as façanhas dos atletas fora dos campos. Parece que elas ocorrem com maior freqüência após sessão esportiva, em eventos sociais relacionados com o esporte ou em companhia de outros atletas. A ingestão de bebidas alcoólicas após o exercício gera vários tipos de racionalizações e justificativas por parte dos atletas, inclusive as do tipo "todo mundo faz isso", "eu bebo só uma vez na semana" e "eu posso eliminar tudo na sauna amanhã cedo". Em alguns casos, esses episódios são romantizados e admira-se a façanha dos que bebem.

Não sabemos se a ingestão total de álcool ou os eventos em que há grande consumo alcoólico são diferentes no caso dos atletas e da população em geral. Várias teorias têm sido propostas para explicar associações prováveis entre o esporte e o consumo de álcool. De um lado, sugere-se que os atletas ingerem menos álcool em razão da elevada auto-estima, do estilo de vida mais rigoroso e do maior interesse na própria saúde e no desempenho.

De outro, associam o álcool aos rituais de relaxamento e celebração no esporte e à exposição a determinados riscos, que, no caso dos atletas, seriam maiores. Vários estudos realizados em diferentes países mostram que os relatos dos atletas incluem ingestões de álcool maiores do que as dos sedentários, sendo que os jogadores de equipes esportivas são os que relatam maiores ingestões.

Embora indícios apontem para o fato de que muitos atletas consomem álcool em quantidades excessivas, pelo menos em algumas ocasiões, fazem-se necessários outros estudos para precisar a ingestão de álcool e os padrões de consumo dos atletas. As informações sobre as atitudes e as crenças dos atletas em relação ao álcool também são importantes, pois permitem a orientação dos programas educacionais especificamente para as práticas de consumo de álcool realmente prejudiciais ao desempenho ou à saúde do atleta.



Fonte: Livro Nutrição Esportiva / Ronald J. Maughan e Louise M. Burke; trad. Denise Regina de Sales - Porto Alegre: Artmed, 2004.

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